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Lula / Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil / Edição: Francisco Gelielçon |
Em mais uma tentativa de reconquistar o eleitorado evangélico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu que a esquerda tem falhado na comunicação com esse segmento, afirmando que “o erro está na gente, não está neles”. A declaração, feita durante o 16º Congresso do PCdoB, nesta quinta-feira (16), soou como um mea-culpa político, mas também levantou questionamentos sobre a coerência entre o discurso de aproximação e as ações do governo.
Nos bastidores, Lula tenta estreitar laços com líderes religiosos e suas bases, ciente do peso que esse público teve nas últimas eleições. No mesmo dia do discurso, o presidente recebeu no Palácio do Planalto o bispo Samuel Ferreira, líder da Assembleia de Deus no Brás (SP), acompanhado do deputado federal Cezinha de Madureira e de membros do governo, como o advogado-geral da União, Jorge Messias, e a ministra Gleisi Hoffmann.
A reunião, que teve tom de cordialidade, foi marcada por elogios do presidente à atuação social das igrejas evangélicas. Em suas redes sociais, Lula afirmou que o governo compartilha valores cristãos, como “respeito, fraternidade, comunhão e apoio às famílias”.
No entanto, essa tentativa de afinidade contrasta com a agenda progressista que o governo tem apoiado no Congresso Nacional — especialmente projetos e posicionamentos ligados à descriminalização do aborto, à ideologia de gênero nas escolas e a pautas que parte do público evangélico considera uma afronta direta à defesa da família tradicional.
A contradição é evidente: enquanto o presidente tenta conquistar a confiança de lideranças religiosas, sua base política defende propostas que geram desconforto entre os fiéis. Para muitos líderes cristãos, o diálogo com o governo só será genuíno quando houver coerência entre discurso e prática.
Mesmo com o envolvimento da primeira-dama, Janja da Silva — que tem promovido encontros com mulheres evangélicas em busca de aproximação —, a desconfiança ainda predomina. A tentativa de seduzir o eleitorado evangélico, sem rever pautas consideradas ofensivas aos seus valores, pode soar mais como estratégia eleitoral do que como um compromisso sincero com esse público.
Assim, o desafio do presidente não parece estar apenas na comunicação, como ele mesmo reconheceu, mas na contradição entre o que diz e o que apoia. Aproximar-se dos evangélicos exige mais do que palavras amáveis — requer coerência moral e política, algo que, até agora, o governo tem deixado a desejar.
Por Francisco Gelielçon
#EstruturalOnLine
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