Inflação de junho agrava cenário interno
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Imagem de Thomas Breher por Pixabay |
O mercado financeiro brasileiro enfrentou uma quinta-feira turbulenta após o anúncio do novo pacote tarifário do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que impõe um aumento de 50% nas tarifas sobre todos os produtos brasileiros exportados para o território americano. O impacto imediato foi sentido no câmbio e na Bolsa: o dólar disparou para R$ 5,54, enquanto o Ibovespa registrou forte queda.
A medida, com vigência a partir de 1º de agosto, é vista por analistas como um agravamento nas relações comerciais entre Brasil e EUA. O tarifaço ocorre em meio a críticas de Trump ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pela tentativa de golpe em 2022. Segundo o presidente norte-americano, o Brasil estaria promovendo "ataques às liberdades democráticas", o que justificaria a retaliação econômica.
Além das tarifas amplas, Trump já havia elevado tributos sobre aço e alumínio brasileiros, agravando o cenário para setores exportadores. As declarações acaloradas do líder americano geram dúvidas no mercado sobre os reais objetivos da medida — se são de natureza comercial, política ou ambas.
Reações no mercado
O nervosismo se refletiu imediatamente nas cotações: o dólar fechou o dia em R$ 5,54, com alta consistente. Ao mesmo tempo, o Ibovespa recuou, puxado por perdas em ações de empresas com forte dependência do mercado externo, como a Embraer, que teve queda expressiva no pregão.
Economistas apontam que a nova rodada de tarifas deve encarecer produtos brasileiros no exterior, diminuir o volume de exportações e reduzir o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). O planejador financeiro Marcelo Bolzan avalia que a medida pode ter impactos severos: “Perder competitividade no maior mercado consumidor do mundo é grave. A tendência é de redução nas exportações e pressão inflacionária interna, por conta da alta do dólar”.
Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, acrescenta que o movimento de Trump aumenta a volatilidade nos mercados globais: “Ainda há dúvidas sobre a durabilidade das tarifas, mas, por ora, o cenário é de alerta, com fuga de capital e cautela dos investidores”.
Inflação acelera e pressiona o Banco Central
Como se não bastasse o abalo externo, o mercado também digeriu a divulgação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de junho. A inflação acumulada em 12 meses atingiu 5,35%, ultrapassando o teto da meta fixada para 2025 — que é de 4,5%. Trata-se da primeira vez que a meta é oficialmente descumprida no novo regime de metas contínuas.
O resultado implica uma resposta formal do Banco Central, que precisará encaminhar uma carta explicativa ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O documento deverá apresentar justificativas para o estouro da meta e sinalizar os próximos passos da política monetária.
Especialistas ouvidos pelo mercado acreditam que o BC deve manter a taxa Selic em patamar elevado por um período prolongado. A economista Claudia Moreno, do C6 Bank, prevê que a taxa básica permanecerá em 15% até o fim de 2026. “O ambiente inflacionário ainda é desafiador, especialmente nos serviços, que seguem pressionados. O Copom deve adotar postura cautelosa diante da instabilidade externa e do dólar valorizado”, afirma.
Para André Valério, economista do Banco Inter, o atual nível de juros ainda não foi plenamente absorvido pela economia real. “O repasse da política monetária para a inflação deve se intensificar no segundo semestre. A eventual queda da Selic só virá se houver melhora consistente nos indicadores”, pontua.
Perspectivas
Com a escalada de tensões comerciais e a deterioração dos indicadores internos, o Brasil enfrenta um cenário de incertezas em múltiplas frentes. O governo Lula promete resposta firme e diplomática às ações de Trump, enquanto o Congresso já articula o uso da recém-aprovada Lei da Reciprocidade Econômica como forma de retaliação proporcional.
Enquanto isso, o investidor segue em compasso de espera, atento aos desdobramentos tanto em Brasília quanto em Washington — e, principalmente, ao impacto disso tudo no bolso do consumidor e na saúde da economia brasileira.
Da redação Estrutural On-line
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