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Ricardo Stuckert / PR |
A nova ofensiva tarifária adotada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em seu segundo mandato, tem colocado o Brasil em uma posição delicada no comércio internacional. Ao priorizar acordos bilaterais e adotar uma postura contrária a blocos multilaterais como o Brics, os EUA têm contribuído para o enfraquecimento da atuação coletiva do grupo e ampliado o risco de isolamento do Brasil.
Desde o anúncio, em julho, da aplicação de tarifas recíprocas a partir de 1º de agosto, a Casa Branca já firmou acordos comerciais com países como Reino Unido, Vietnã, Indonésia, Filipinas e Japão — além de um acerto preliminar com a China. O Brasil, no entanto, segue sem avanços nas negociações e sob ameaça de uma tarifa de até 50%.
Para especialistas, a estratégia de Trump representa mais do que uma disputa comercial. Segundo o economista Maurício F. Bento, da Hayek Global College, a Casa Branca vê o Brics como um desafio à liderança global dos Estados Unidos, especialmente ao papel dominante do dólar. "Trump rejeita o multilateralismo e opta por acordos diretos, o que fragmenta blocos como o Brics e prejudica países que insistem em uma postura coletiva", avalia.
O Brasil, que ainda não conseguiu um canal direto de negociação com Washington, pode ser duplamente prejudicado: além de enfrentar sanções comerciais, perde força política ao ver outros membros do Brics se alinharem individualmente aos interesses norte-americanos.
“Ficar por último na fila de negociações é arriscado. Os EUA podem endurecer com o Brasil justamente para mandar um recado a outros países, forçando concessões mais vantajosas para si”, disse Bento ao Metrópoles.
Além das tarifas, outros pontos de atrito já foram sinalizados pelos EUA. Entre eles estão o sistema de pagamentos brasileiro, como o Pix, e o tratamento regulatório dado às big techs no país — temas considerados sensíveis para Washington.
Resultados imediatos e riscos futuros
Para Trump, os acordos firmados com tarifas entre 10% e 30% são apresentados como vitórias comerciais. Segundo Bento, essas negociações trouxeram vantagens de curto prazo aos EUA, como proteção de indústrias e estímulo a investimentos domésticos. “Mas no longo prazo, essa imprevisibilidade pode afetar a confiança dos parceiros comerciais nos Estados Unidos. A mudança brusca de rumos na política externa americana levanta dúvidas sobre a estabilidade dos compromissos assumidos”, alerta o economista.
Desde o início de julho, Trump tem divulgado, em suas redes sociais, correspondências enviadas a líderes de países afetados pelas novas tarifas. Entre os destinatários estão Brasil, Indonésia, União Europeia, Coreia do Sul, África do Sul, México e Canadá, além de nações asiáticas e africanas.
O cenário coloca o Brasil diante de um dilema estratégico: manter-se firme em uma posição conjunta com o Brics ou ceder à pressão norte-americana para buscar um acordo isolado. Qualquer que seja a escolha, os impactos políticos e econômicos prometem ser profundos.
Da redação Estrutural On-line
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