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Mercado financeiro oscila com proposta do governo para compensar recuo no IOF

Imagem de André Santana Design André Santana por Pixabay

A semana começou com instabilidade nos mercados brasileiros, impulsionada pelo anúncio de medidas econômicas para substituir o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Nesta segunda-feira (9), o dólar encerrou o pregão com leve queda de 0,14%, cotado a R$ 5,56, após atingir R$ 5,60 ao longo do dia. Já o Ibovespa recuou 0,30%, fechando aos 135.699 pontos, depois de afundar mais de 1,4% pela manhã.

A volatilidade refletiu a reação negativa do mercado à estratégia fiscal apresentada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na noite de domingo (8). O plano, segundo analistas, frustrou expectativas por não conter medidas de contenção de gastos, apostando, mais uma vez, no aumento da arrecadação.

As propostas incluem o fim da isenção de Imposto de Renda para produtos como LCI, LCA, CRI, CRA e debêntures incentivadas — instrumentos populares entre investidores de renda fixa. Setores financeiro e imobiliário reagiram mal à possibilidade, aumentando a pressão sobre o índice da Bolsa brasileira.

Setores reagem e volatilidade persiste

Apesar do clima tenso, o Ibovespa amenizou as perdas com o desempenho positivo de ações ligadas à mineração e siderurgia, puxadas por uma valorização das ações da Gerdau após revisão positiva do UBS, que elevou a recomendação de compra para os papéis. A recuperação parcial das bolsas norte-americanas também ajudou a conter o pessimismo local.

Segundo Alexsandro Nishimura, economista da Nomos, o impacto do anúncio se deu mais pela percepção de falta de avanço estrutural na política fiscal do que pelo conteúdo específico das novas medidas. “A leitura dominante é que o governo recorre novamente a receitas pontuais, sem enfrentar o desafio dos gastos públicos”, avaliou.

Investidores demonstram ceticismo

Para o mercado, o novo pacote ampliou o sentimento de incerteza quanto ao compromisso do governo com a responsabilidade fiscal. A expectativa de resistência no Congresso Nacional, somada ao ruído político, acendeu o alerta de que os juros básicos (Selic) possam voltar a subir — algo que semanas atrás parecia improvável.

Arthur Barbosa, da Aware Investments, afirma que a tentativa de compensar o recuo do IOF com novas fontes de arrecadação não resolve a principal preocupação dos investidores: o crescimento desordenado das despesas públicas. “O foco segue em gerar receitas, deixando de lado o necessário ajuste nas contas”, comentou.

Impactos no cenário internacional e risco regulatório

Além das incertezas domésticas, o cenário externo também contribuiu para a instabilidade. Bruno Shahini, da Nomad, destacou que os sinais de enfraquecimento da economia chinesa — com indicadores de inflação, exportação e importação abaixo do esperado — pesaram sobre a cotação do minério de ferro e limitaram a valorização do real.

Ainda de acordo com Shahini, a frustração do mercado também se deve à percepção de aumento do risco regulatório, com mudanças frequentes nas regras do jogo. “A retirada de isenções para instrumentos populares, como LCI e LCA, afasta investidores e aumenta a cautela em relação ao ambiente de negócios no país”, concluiu.

Boletim Focus eleva projeção de déficit

Reforçando a leitura pessimista, o Boletim Focus divulgado pelo Banco Central apontou projeção de déficit primário de 0,60% do PIB em 2025 — mais que o dobro do teto de tolerância estipulado pelo arcabouço fiscal (0,25%). A previsão lança dúvidas sobre a capacidade do governo de cumprir a meta estabelecida.

Enquanto o governo busca alternativas para fechar as contas e manter credibilidade junto aos agentes econômicos, o mercado financeiro segue em compasso de espera, cobrando medidas mais consistentes de ajuste estrutural e equilíbrio fiscal.

Da redação Estrutural On-line

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