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Brasileira vítima de tráfico sexual é resgatada em Mianmar e retorna ao país após meses de horror

Imagem de Enrique por Pixabay

Uma jovem brasileira resgatada de um esquema internacional de tráfico de pessoas chegou ao Brasil no último domingo (8/6), após viver dois meses em condições desumanas no estado de Karen, em Mianmar. A vítima foi levada à Ásia com a promessa de uma oportunidade de trabalho na Tailândia, mas acabou sendo mantida em cárcere e explorada sexualmente por uma rede criminosa ligada à máfia chinesa.

O aliciamento foi feito por uma mulher brasileira, que convenceu a jovem a embarcar com falsas garantias de emprego. Ao desembarcar no sudeste asiático, a vítima teve seus documentos retidos e foi entregue a integrantes do grupo criminoso, que agem com a conivência de agentes locais da imigração, segundo entidades que atuam no combate ao tráfico humano na região.

Durante o período em que esteve presa, a jovem foi confinada em um hotel utilizado como fachada para crimes como exploração sexual e golpes cibernéticos forçados. Com acesso limitado apenas à internet, conseguiu enviar mensagens de socorro pelas redes sociais, o que possibilitou seu resgate por organizações internacionais no início de maio.

De volta ao Brasil, a jovem ainda enfrenta os impactos psicológicos do sequestro e da violência sofrida. De acordo com Cintia, representante da The Exodus Road Brasil — uma das instituições envolvidas no apoio à vítima — a jovem tem evitado exposição pública por razões de segurança e saúde emocional. “Ela já passou por muito. A pressão adicional da repercussão só agrava o trauma”, afirmou.

Desdobramentos e investigação da Polícia Federal

O caso desencadeou a deflagração da Operação Double Key pela Polícia Federal, realizada na última sexta-feira (6/6). O objetivo da ação é desarticular uma organização criminosa especializada no tráfico internacional de mulheres para fins de exploração sexual, com atuação centralizada em países do sudeste asiático, como Mianmar, Camboja e Laos — região conhecida como Triângulo Dourado, um foco global desse tipo de crime.

Dois cidadãos chineses foram presos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo, ao desembarcarem de um voo vindo do Camboja. Além disso, uma brasileira suspeita de envolvimento no esquema foi alvo de medidas cautelares e teve sua residência, na capital paulista, vasculhada por agentes federais.

As investigações indicam que o grupo atraía mulheres com promessas de trabalho em empreendimentos recém-construídos na região de Karen, como cassinos e hotéis. Na realidade, os espaços funcionavam como centros de exploração e fraude digital, com vítimas forçadas a atividades criminosas sob regime de trabalho análogo à escravidão.

A Polícia Federal incluiu o nome da vítima na Blue Notice da Interpol — uma espécie de alerta internacional que facilitou sua localização e resgate. As apurações continuam, e os envolvidos poderão ser responsabilizados por crimes de tráfico internacional de pessoas e formação de organização criminosa.

Atuação das autoridades brasileiras

Segundo o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o processo de repatriação da vítima foi articulado pelo Ministério das Relações Exteriores, por meio da Divisão de Assistência Consular. Após sua identificação como vítima de tráfico, a pasta entrou em contato com autoridades locais em Mianmar para garantir suporte básico, como acolhimento e atendimento médico emergencial.

No Brasil, a jovem será acompanhada por órgãos especializados, como o Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP) e a Defensoria Pública da União, conforme os protocolos nacionais de atendimento a vítimas de tráfico internacional. O governo afirmou ainda que segue monitorando a aplicação desses protocolos para garantir um acolhimento humanizado e eficaz.

O caso reacende o alerta sobre os riscos do tráfico de pessoas, especialmente em regiões onde o crime encontra terreno fértil devido à corrupção e à vulnerabilidade social. Especialistas reforçam a importância de campanhas de conscientização e vigilância constante contra aliciadores que prometem oportunidades fora do país, mas escondem realidades cruéis por trás de propostas tentadoras.

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