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“Filma que é polícia”: como foi o tiroteio que deixou um morto na agenda campanha de Tarcísio

"Filma que é polícia": como foi o tiroteio que deixou um morto durante agenda de campanha de Tarcísio em Paraisópolis, segundo o MPSP



“Filma aquele ali que é polícia”. A frase é atribuída a Felipe Silva de Lima, de 27 anos, minutos antes de ser morto com um tiro no peito em confronto com a Polícia Militar, durante agenda de campanha do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

O inquérito que investigou o caso foi arquivado pela Justiça na última quinta-feira (19/1). Conforme informou o Metrópoles, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) entendeu que Felipe foi morto por um policial, com um tiro de fuzil, em uma situação de legítima defesa.

Era manhã do dia 17 de outubro de 2022. Na ocasião, Tarcísio disputava eleição para o governo do Estado e foi com a sua equipe a Paraisópolis para inauguração do Centro Universitário Ítalo Brasileiro, a primeira universidade da favela, localizado na Rua Manoel Antônio Pinto.

Além de equipe própria, a segurança de Tarcísio contava com PMs à paisana do 16º Batalhão e do Comando da Polícia Militar. A comitiva chegou ao local por volta das 10h30.

O relato abaixo, com o passo a passo do confronto, foi extraído de documentos que constam dos autos, incluindo relatório da Polícia Civil e do MPSP.

Segurança

Viaturas descaracterizadas faziam rondas desde cedo em Paraisópolis. Escalados para proteger o candidato, PMs do setor de inteligência teriam percebido duas motos, ambas ocupadas por condutor e garupa, passando “diversas vezes pelo local”.

Uma das viaturas, com um cabo e um soldado, estacionou na frente da universidade assim que Tarcísio e sua equipe chegaram. O soldado desceu do carro para fazer a segurança. Já o cabo permaneceu dentro da viatura.

Segundo relatam os agentes, uma moto XRE 300 passou bem devagar pelo local por volta das 11h. O condutor era Felipe Silva de Lima, morto no tiroteio em seguida, de acordo com a investigação. Outro homem, na garupa e com um “volume na cintura”, filmava a viatura com o celular.

Em depoimento, o soldado à paisana alega ter sido abordado por Felipe. “Quem autorizou isso aí?”, teria questionado. O policial não respondeu. Em seguida, o suspeito saiu acelerando e fez ameaças: “Isso aí vai ser cobrado”.

Escondido pela película escura do vidro da viatura, o cabo gravou a ação e comunicou outros PMs, que haviam entrado no evento do candidato Tarcísio. Os policiais também pediram reforço, de acordo com as informações relatadas à Justiça.

Confronto

Oito motocicletas, com homens armados, teriam descido a rua em seguida, ainda antes de o apoio chegar. Felipe e o garupa, agora com uma “arma longa”, estariam no grupo.

“A cerca de 50 metros de distância do local do evento e dos policiais, um dos indivíduos que estava a pé, trajando a camiseta do time São Paulo Futebol Clube, apontou a arma para os policiais e fez um primeiro disparo, sendo seguido, quase que concomitantemente, dos demais indivíduos”, diz o relatório do MPSP.

Os policiais se abrigaram atrás de um Jeep Compass, blindado, usado pela campanha de Tarcísio. Já os criminosos trocavam tiros de trás de carrinhos de lanche.

O soldado que havia sido ameaçado pouco antes por Felipe efetuou, ao todo, sete disparos com a pistola .40. Já o seu parceiro não teria puxado o gatilho “para poupar munição, haja vista que não sabia quanto tempo levaria para chegar o apoio”, escreveu a promotoria.

A troca de tiros também atingiu um Honda Civic, estacionado na rua, e o para-brisa de uma van escolar. Em orçamento apresentado à investigação, a proprietária da van estima prejuízo de R$ 2 mil.

Reforço

Acionada para apoio, a equipe do tenente Ronald Quintino Correia Camacho chegou poucos minutos depois. Foi do fuzil calibre 5.56 do tenente que teria saído a bala que matou Felipe, segundo o MPSP.

Felipe tinha passagens por roubo e pela Fundação Casa. Com ele, os policiais afirmam ter encontrado um coldre para arma de fogo, um celular e um carregador, calibre 9 mm, com oito cartuchos íntegros. Nenhuma arma foi apreendida.

A equipe especializada do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), responsável por investigar o caso, chegou ao local por volta das 13h50. Àquela altura, os PMs, que alegaram falta de segurança no local, já haviam recolhido cápsulas de diversos calibres .40, .45, .380 e 9mm.

Felipe também havia sido posto por PMs no porta-malas de uma viatura e levado ao Hospital Campo Limpo, na zona sul, onde a morte foi constatada.

Agenda de campanha

Enquanto isso, dentro da universidade, Tarcísio e sua equipe estavam no segundo andar do prédio e ouviam dos funcionários como funcionava o projeto. Repórteres e cinegrafistas aguardavam o momento de o candidato descer para atender a imprensa, como de costume em agendas de campanha.

Uma primeira rajada de tiros foi ouvida. No prédio, o barulho foi confundido com o de uma moto e um dos presentes chegou a fazer piada que, na verdade, seria de arma de fogo. Novos disparos, em seguida, indicaram que a situação era séria.

Um dos assessores de Tarcísio, o policial federal Danilo Campetti, desceu correndo do mezanino, onde o candidato estava, já com arma em punho, e gritou para os jornalistas se agacharem e ficarem distantes da janela. Ainda assim, cinegrafistas filmaram a troca de tiros.

Tarcísio foi retirado do prédio rodeado de seguranças, minutos depois. A comitiva ainda deu carona para alguns jornalistas e saiu do local no veículo blindado.

Para o promotor Fabio Tosta Honer, do MPSP, a ação dos policias foi legítima.

“O policial militar Ronald e os demais policiais usaram os meios necessários para repelir atual e injusta agressão, sem incorrer em excesso, tendo em vista que agiram dentro dos rígidos limites da lei”, escreveu.

O pedido de arquivamento da investigação foi aceito pela Justiça na quinta-feira (19/1).

Por Felipe Resk e Vinicius Passarelli - Metrópoles

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