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AMEAÇADO DE MORTE DUDA DA ESTRUTURAL

Denúncia sobre invasão da chácara de Duda

Entre 10h e 16h, de terça-feira, dia 02/07, um grupo de grileiros, de 20 a 30 pessoas, sob liderança de "Seu Luís", invadiu, desmatou, abriu picada para fazer uma "rua", depredou e "loteou" a chácara do Duda, considerada "o pulmão verde da Estrutural". No dia seguinte, a bomba d'água e a caixa d'água de 500 litros também foram roubadas, acusam testemunhas, pelo filho do líder grileiro.
Os grileiros demarcaram as terras improvisadamente, usando arame farpado da cerca da propriedade e também fazendo tiras com o plástico que revestia o balneário que Duda esvaziara com medo de crianças se afogarem.
A Wender, morador também da chácara de Duda, os grileiros disseram que "Seu Luís" quer “conversar” com Duda para ele sair pois vão ocupar a área. "Disseram" é modo de dizer, já que ameaçaram que "o bicho vai pegar, se Duda não sair".
Acionada imediatamente por Duda, a PM não fez questão de tomar posição sobre o fato e ainda debochou do denunciante, dizendo que na Estrutural “não tem bandido”. Perguntados se podiam fornecer-lhe o número da Polícia Ambiental, não souberam informar e sugeriram-lhe que ligasse no 190 “que eles informariam”.
Desamparado, Duda partiu para registrar a ocorrência na Polícia Civil, que ao lado da PM na Cidade Estrutural. Duda voltou à PM, comunicou-lhes o registro da ocorrência na Polícia Civil e perguntou-lhes o que iriam fazer. O policial disse que não poderiam agir naquele momento porque estavam na hora do almoço.
Desconsolado, Duda voltou à chácara assediada pelos grileiros e começou a ligar para autoridades do Poder Público. Em primeiro lugar, ligou ào chefe de gabinete da Administração, Valcir Costa, que nada fez a não ser dizer que no dia seguinte, às 9h, o tenente Riegas iria lá porque já havia uma operação programada para acontecer.
Em seguida, Duda ligou para o IBAMA, que também disse que não podia fazer nada porque não era de responsabilidade deles. Todavia, a secretária Renata informou-lhe o número do CMBio, que acionou a fiscalização do IBRAM, Instituto Brasília Ambiental.
Só por volta de 16h o IBRAM apareceu, acompanhado da Polícia Civil, e pôde flagrar os grileiros em atuação de desmatamento e depredação na chácara. Durante a operação, Duda aguardou à distância, com o intuito de não se envolver.
Aproximadamente passado uma hora, Duda se aproximou dos fiscais do IBRAM e da polícia para saber o que tinham feito. Quando Duda chegou, eles lhe disseram “que não podiam fazer nada porque a área era pública e por não apresentar documento de propriedade não podiam fazer nada”, como se apenas a propriedade estivesse sendo ofendida e não o cidadão e a natureza.
Desacorçoado, Duda despediu-se dos fiscais e dos policiais civis sem saber o que fazer e a quem recorrer, pois se achava injustiçado em decorrência de ver sua propriedade livremente destruída sem nenhuma intervenção de proteção da parte do Estado.
Saindo dali, Duda foi à Administração pedir mais uma vez socorro, pois o chefe de gabinete, Valcir Costa, já desligara o telefone, possivelmente para não ser mais incomodado. Ao chegar, Duda encontrou Valcir Costa, que lhe disse já ter “tomado as devidas providências” no que diz respeito à operação que o tenente Riegas faria no dia seguinte. 
Desesperado, Duda foi à Ouvidoria da Administração, conversar com a Sra. Célia, ouvidora. Ela lhe repetiu o que Valcir já dissera: “Já tá tudo certo para a operação amanhã às 9h; já tá todo mundo acionado”.
Essa operação não aconteceu. Mais ou menos às 9h, hora marcada para a “operação” começar, Duda recebeu um telefonema de Sérgio, segurança da administradora da Cidade Estrutural, Maria do Socorro Torquato. Sérgio confirmou a Duda que o tenente Riegas já estava na “tenda” esperando por ele.
A “tenda” à qual se referia é o lugar onde um pastor distribui alimentos para as famílias da localidade, há cerca dois ou três meses. Quando chegou à tenda, Duda não encontrou ninguém, nem sinal de operação policial.
A chácara de 8.500 a 9.000 m² é a única propriedade verde remanescente no outrora Setor de Chácaras Santa Luzia, totalmente favelizado após uma ação de remoção dos antigos chacareiros para a chamada Fazenda Monjolo e a omissão diante da invasão dos terrenos esvaziados sob a ação da TERRACAP, comandada então pelo Sr. Antônio; da Secretaria de Estado da Agricultura, comandada pelo Sr. Vilmar, secundado na remoção pelo Sr. Osvaldo; da Secretaria de Estado e Assistência Social e Trabalho, comandada por Eliana Pedrosa; da Sudesa, da AGEFIS, da CAESB, da CEB e da Administração da Estrutural.
Duda transformou a área da chácara num recanto ecológico, generosamente apresentado aos amigos mas também oferecido à visitação da comunidade, de escolares em excursão e de amigos da comunidade, como os incontáveis professores e estudantes universitários que Duda ajudou, acompanhou e ciceroneou durante a realização de projetos de extensão de instituições como UnB, UCB, IESB, etc.
Chamada Adonaira em homenagem aos filhos, Adonai e Naira, a chácara chama a atenção por preservar espécies nativas do cerrado. Além disso, Duda, ecologista natural, promoveu ali uma verdadeira integração botânica nacional.
Nesse paraíso de passarinhos, Duda plantou pés de ipê, mogno, cedro, pau-brasil, pau-cotia, ingá, tamboril, cajá-do-mato, paricá, amendoeira (sete-copas), jamelão, anjico, sabonete, castanha-do-Pará braba, peroba, jatobá, imbaúba, jenipapo, ubá, macaúba, jacarandá, babaçu, sibipiruna, entre outras espécies.
Após a ação grileira, no fim da tarde de terça, estavam no chão bananeiras, ingazeiras, paus-santos, chapéus-de-couro, muricis, mangueiras, laranjeiras e pés de siriguela, araticum e acerola. As mudas de abacaxi estavam arrancadas do chão, como querem arrancar Duda da terra que protege, venera e cultiva com o fim de criar ali um "museu ecológico".

Quem é o Duda, hoje ameaçado de morrer
Duda é o apelido de Adoaldo Dias Alencar, o repórter comunitário da Cidade Estrutural, comunidade nascida em torno do Lixão de Brasília e ao largo da Via Estrutural, que liga o Plano Piloto a Taguatinga e Ceilândia. A identidade de repórter comunitário é construída desde quando passou a filmar intuitivamente o cotidiano da Estrutural, com o objetivo de flagrar as mazelas da vida na cidade.
Duda nasceu em 17/08/1963, na cidade maranhense de Governador Archer. Em 1981, veio para Brasília. Em 1984, no dia 04/01, empregou-se como auxiliar de higiene no Hospital Sarah Kubistcheck. Em 1990, tornou-se auxiliar de almoxarifado, desviado de função. Na condição de auxiliar operacional de serviços diversos (AOSD) foi cedido em dezembro de 1993 ao Ministério do Trabalho, onde trabalhou como office-boy na Secretaria de Emprego e Salário. Em 1996, foi transferido para a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), e, no ano seguinte, para a Secretaria de Saúde (cedido até hoje), onde atua, no momento, como auxiliar de arquivo no Posto de Saúde Lúcio Costa, uma extensão do Guará, região administrativa do Distrito Federal.
Em 1995, Duda mudou-se para a Estrutural, no período mais conflituoso de formação da cidade. No ano seguinte, 1996, investiu R$5.000,00 para colocar uma mercearia. Ali, à meia-noite do dia 12 de agosto de 1997, "no dia em que a polícia descobriu o cativeiro da filha de Luis Estevão", foi baleado na cabeça, tendo a sorte de a bala lhe penetrar apenas o couro cabeludo - fato ocorrido à frente do filho, Hudson Adonai, nascido em 16/07/1994. Traumatizado, Duda mudou-se com a família para Samambaia. Nesse período, nasceu Naira, sua filha, em 14/08/1998. 
Duda retornou a Estrutural a trabalho, em 2000, para trabalhar no combate à dengue. Nessa função, conheceu praticamente todos os recantos da cidade, onde voltaria a morar em 2002. Sua chácara, chamada Adonaira em homenagem aos filhos, espaço verde único restante em área favelizada após desastrada ação do governo, é alvo da especulação imobiliária e Duda não conseguiu ainda implementar o projeto de turismo ambiental com o qual sempre sonha.
Duda começou a filmar ostensivamente em 2010, após assistir a uma palestra no quarto Fórum de Museus, realizado entre 12 e 17 de julho, sobre "estudo de públicos" com auxílio de vídeos que mostravam as pessoas falando. Essas "tantas imagens bonitas", e ouvir a professora falando em "fazer uma 'pesquisa falada'", entusiasmaram-no. Ao chegar em casa, com uma câmera de seu filho, começou a filmar.
- No começo, eu filmava com medo de ser assaltado, de apanhar...
Superado o medo, Duda produziu rapidamente um imenso acervo videográfico da Estrutural, onde figuram desde cenas do primeiro casamento gay na cidade a depoimentos de populares e autoridades. A intensa atividade de Duda como "repórter comunitário" chamou a atenção de professores da Universidade Católica de Brasília que participam do projeto Teia do Conhecimento, que hoje reúne docentes e discentes de Medicina, Filosofia, Comunicação e Administração a atuarem na Estrutural, em parceria com a Casa dos Movimentos. 
Criada pelo Movimento de Educação e Cultura da Estrutural (MECE), do qual Duda faz parte, a Casa tem um grande poder de articulação institucional, constatado nas parcerias que cultiva - entre outras, além da UCB - com o Núcleo de Economia Solidária da Universidade de São Paulo (USP), que a levou a protagonizar a criação do Banco Estrutural, com moeda social própria, chamada "conquista"; com a embaixada argentina e o Coletivo Microrrevoluções, de diplomatas do Itamaraty, que a levaram a criar a Editora Abadia Catadora, com quatro livros no catálogo; e com a Universidade de Brasília (UnB) e o Instituto Brasileiro de Museus, que a levaram a se transformar num Ponto de Memória reconhecido e premiado.
No âmbito das atividades desencadeadas no Ponto de Memória que Duda assistiu à palestra que o inspirou a começar a filmar e a desenhar o sonho de constituir uma TV na Cidade Estrutural, como espaço para a luta de cidadãos e cidadãs.
Este é Duda, hoje ameaçado de morte.

Fonte:http://apoliticaeopoder.blogspot.com.br/2013/07/ameacado-de-morte-duda-da-estrutural.html

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