Teerã endurece discurso e desafia diretamente os Estados Unidos dias antes de nova tentativa de acordo nuclear; Israel se mantém à margem, mas em alerta.
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Arte/Metrópoles |
A três dias da retomada das negociações sobre seu programa nuclear com os Estados Unidos, o Irã anunciou nesta quinta-feira (12/6) que pretende ampliar de forma expressiva a produção de urânio enriquecido — uma decisão que eleva a tensão diplomática e é vista como um desafio direto ao governo norte-americano.
O anúncio surge em um momento de crescente instabilidade no Oriente Médio e marca um ponto crítico nas relações entre Teerã e Washington. O presidente Donald Trump, em seu segundo mandato, tem buscado consolidar um acordo que limite a capacidade nuclear iraniana, ao mesmo tempo em que tenta se posicionar como figura-chave para resolver conflitos internacionais, como os que ocorrem em Gaza e na Ucrânia.
Apesar dos esforços diplomáticos, o Irã endureceu sua postura. Para analistas internacionais, a decisão de acelerar o enriquecimento de urânio contraria os objetivos da Casa Branca e representa um obstáculo considerável às conversas marcadas para domingo (15/6), na capital de Omã, Mascate.
A declaração iraniana veio logo após uma resolução adotada pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que acusou formalmente o país de descumprir obrigações de não proliferação nuclear — algo que não ocorria há quase duas décadas. A medida provocou uma reação imediata do ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araqchi, que considerou a resolução um fator de “complexidade adicional” às negociações.
“Estaremos em Mascate defendendo os direitos do povo iraniano”, declarou Araqchi, indicando que o Irã não pretende ceder facilmente às pressões internacionais.
Entre ameaças e promessas
O presidente iraniano, Masoud Pezeshkian, reforçou a retórica de resistência ao afirmar que, mesmo que instalações nucleares sejam atacadas por Israel ou pelos EUA, o país será capaz de reconstruí-las. “Essas capacidades estão em nossas mentes. Seja o que for que façam, nós reconstruiremos”, afirmou.
Enquanto isso, o premiê israelense Benjamin Netanyahu, que não participa diretamente das negociações entre Washington e Teerã, mantém uma postura beligerante. Israel chegou a planejar ataques a alvos nucleares iranianos para este mês, mas teve suas intenções vetadas por Trump, que insiste em manter a via diplomática. Ainda assim, Netanyahu continua pressionando por uma ação militar, mesmo que sem apoio dos Estados Unidos.
A tensão entre os dois aliados reflete visões distintas sobre como lidar com o Irã: enquanto Trump aposta em diplomacia para explorar o momento de fragilidade iraniana, Netanyahu defende uma ofensiva mais direta, temendo que o país persa recupere rapidamente seu potencial bélico.
Em outubro do ano passado, Israel já havia realizado uma operação que desativou parte significativa do sistema de defesa aérea iraniano, facilitando futuras incursões em território iraniano. Além disso, ações militares israelenses também enfraqueceram os grupos Hamas e Hezbollah — ambos apoiados logisticamente por Teerã.
Perspectivas
Apesar das ameaças e declarações inflamadas, Trump demonstrou algum otimismo nas últimas semanas. Em 25 de maio, chegou a dizer que poderia haver “algo de bom” nas tratativas com o Irã “nos próximos dois dias”. No entanto, fontes ligadas ao governo americano afirmam que, no melhor dos cenários, o que está sobre a mesa neste momento é apenas uma declaração de intenções, sem compromissos concretos.
Com um cenário internacional cada vez mais volátil, a nova rodada de negociações entre Irã e EUA será acompanhada com atenção redobrada — não apenas por seus desdobramentos regionais, mas também pelo impacto que pode ter nas eleições e na segurança global.
Da redação Estrutural On-line
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