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Ex-interventor do DF, Ricardo Cappelli, menospreza forças de segurança de Brasília durante entrevista ao Correio Braziliense ao falar sobre as queimadas

Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil

Em 8 de janeiro de 2023, quando ocorreram os ataques na Praça dos Três Poderes, com a depredação dos órgãos públicos, o governador do Distrito Federal, recém-reeleito, Ibaneis Rocha (MDB), foi afastado por ordens do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes. Na ocasião, o governo federal, por meio de decreto, através do agora ministro do STF, Flávio Dino, nomeou o então secretário-executivo do Ministério da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Cappelli como interventor do DF.

Cappelli, era considerado no Ministério da Justiça, homem de confiança do ministro Flávio Dino, que na época estava filiado ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Em razão do incidente no dia 8 de janeiro, que chegou a ser considerado uma tentativa de “golpe de Estado”, o nome de Cappelli ganhou repercussão nacional e o tornou conhecido em todo o país.

Agora, Cappelli, que hoje é presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), volta à bailar por ter sido escolhido pelo PSB local – o mesmo partido que já elegeu o ex-governador Rodrigo Rollemberg – para ser pré-candidato ao Governo do DF (GDF) e, quiçá, o representante da esquerda nas eleições de 2026.

Estamos ainda nas vésperas das eleições municipais, mas como no DF, não tem pleito este ano, as discussões para a corrida eleitoral de 2026 já começou. E Cappelli, como tudo indica, tentará entrar no jogo, conforme suas falas em recente entrevista ao jornal Correio Braziliense, ao qual em seu discurso ele tenta angariar a atenção da população do DF dizendo que Brasília não comece na “Asa Sul e acaba no Noroeste” e ressaltou que “a maior parte das pessoas que moram no DF não moram aqui (em Brasília), estão lá na Ceilândia, estão em Taguatinga, estão no Sol Nascente, no Riacho Fundo 2, em Samambaia, em Sobradinho". Lembrando que o GDF vem tramalhando incansavelmente para levar melhorias para todo o Distrito Federal.

Ele vai além e já ensaia suas primeiras críticas ao governo de Ibaneis Rocha. Muitos podem até dizer que a audácia de Cappelli em se tornar governador do DF, se deu quando ele foi interventor – teria sentido o gosto da cadeira? –, mas, conforme seu currículo, sua ligação com a capital federal começa entre 2003 e 2005, quando ele foi diretor de Esporte Universitário do Ministério do Esporte, e, depois, entre 2013 e 2015, quando foi secretário Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social do Ministério do Esporte, além de Membro do Conselho Nacional do Esporte no período.

Todos esses cargos que Cappelli ocupou são resultados de sua intrínseca relação com o ministro do STF, Flávio Dino. Tanto que todas suas filiações partidárias sempre seguirão as mudanças que Dino fez, entrando, primeiro, no Partido Comunista do Brasil (PCdoB) e depois no PSB. Cappelli sempre teve uma relação muito intima com o ministro do STF, tanto que ele foi de 2015 a 2021, o secretário estadual da Representação Institucional do governo do Maranhão no DF, quando Flávio Dino era o governador do Maranhão.

Agora, tentando caminhar com suas próprias pernas, o ex-interventor começa a fazer o seu jogo para se apresentar como um legítimo nome de uma política que não seria nem de esquerda e nem de direita. “Não me referencio por essa dualidade esquerda-direita, tá? Então, a gente tem conversado com vários atores políticos aqui do DF, uma parte deles da esquerda e outra parte não. Muita coisa ainda vai acontecer até 2026. Então, são conversas preliminares, são conversas, enfim, mais de delimitação de alguns campos, mas muita coisa vai acontecer até lá”, afirmou Cappelli em sua entrevista ao Correio Braziliense.

Nesta mesma entrevista, ele criticou, a atual gestão do governador Ibaneis, ao falar como o governo local estava tendo uma atuação tímida em relação ao combate às queimadas. E na esteira de uma possível fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que teria criticado Ibaneis e o Corpo de Bombeiro do DF, disse não acreditar nos órgãos competentes locais, a não ser na Polícia Federal, que é de abrangência nacional.

“É claro que o estado precisa agir e está agindo, agora, eu tenho muita confiança também na Polícia Federal, nessa investigação da Polícia Federal porque, na minha opinião, tem todos os indicativos de que há uma orquestração criminosa por trás dessas queimadas que estão afetando o Brasil e prejudicando a economia, a produção de alimentos, prejudicando a saúde das pessoas e afetando o clima, com consequências para o país como um todo e aqui no DF, quer dizer, o cerrado todo, que é considerado a caixa d'água do Brasil. É inaceitável o que está acontecendo e a gente tem que tomar medida para proteger”, afirmou.

Observa-se que em nenhum momento Cappelli elogiou trabalho do Corpo de Bombeiros do DF e nem as investigações da Polícia Civil, seus elogios são apenas à Polícia Federal.
 
Ele esqueceu, no entanto, de dizer que três pessoas foram presas no DF suspeitas de provocar incêndios florestais na capital federal. As prisões ocorreram durante a Operação Curupira, deflagrada pela Polícia Civil (PCDF). A ação faz parte de uma força-tarefa criada pelo GDF para identificar e punir pessoas envolvidas em queimadas. Além de 1.546 ocorrências de incêndios em vegetação que o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) atendeu na primeira quinzena de setembro deste ano.

Porém, ao contrário que disse o ex-interventor, a própria ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, reconheceu que o governo Lula não se preparou para enfrentar a crise de seca e incêndios, e afirmou que as estratégias ficaram aquém da realidade que se impôs. “O que nós estamos descobrindo agora é que [o planejado] não foi suficiente. E ter essa clareza e essa responsabilidade de não querer mascarar a realidade ou minimizar a realidade faz parte de uma postura republicana diante da sociedade“, disse a ministra ao podcast Café da Manhã, do jornal Folha de São Paulo.

Portanto, ao criticar, mesmo que de forma velada, o governo atual do DF por sua possível omissão e não dizer nada sobre o governo Lula, o ex-interventor mostra que, para ele, a corrida eleitoral de 2026 já começou e, se depender dele, seu nome será adversário da direita no DF. E, conforme for o tamanho da fome de Cappelli, até mesmo o Partido dos Trabalhadores (PT) local será engolido e estará em segundo plano, sendo mais uma vez, ultrapassado pelo PSB, que terá candidato próprio concorrendo ao GDF.

Por Francisco Gelielçon e Marcos Padilha / Estrutural On-line

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